quarta-feira, 19 de maio de 2010

Entendendo as neuroses

Diz uma piada que "a diferença entre o neurótico e o psicótico é que o psicótico acha que 2 mais 2 são cinco; o neurótico sabe que são 4 mas não aceita nem se conforma com isso"


O entendimento da Personalidade Neurótica ou, conforme termo de Henri Ey, do Caráter Neurótico, implica antes no entendimento global do que foi dito até agora sobre a Personalidade; das Disposições Pessoais, do arranjo peculiar dos Traços no interior do eu, da modelagem afetiva no desenvolvimento da Personalidade, da história biológica e existencial do indivíduo e das exigências adaptativas que a vida solicita.
O indivíduo, aqui e agora, do jeito em que ele se encontra e com esta determinada disposição para com a sua vida, só pode ser compreendido como o resultado daquilo que ele trouxe para a vida, através de sua natureza constitucional, com aquilo que a vida trouxe para ele, através de seu destino existencial. Entender a Personalidade Neurótica implica, antes, no entendimento da Personalidade como um todo, normal ou alterada, apta a responder harmonicamente à vida ou claudicar por dificuldades imanentes ao seu modo de ser.
Podemos dizer que o indivíduo possui uma Podemos dizer que o indivíduo possui uma Personalidade Neurótica quando ele reage "neuroticamente" diante dos eventos de forma habitual e esta forma de reagir passa a caracterizar sua maneira de existir, e reagir neuroticamente é quando a pessoa sucumbe cronicamente diante de seus conflitos, sucumbe não apenas aos conflitos atuais mas, também e sobretudo, aos conflitos remanescentes do passado.
Podemos ainda arriscar a considerar a pessoa neurótica quando suas pulsões inconscientes dominam suas atitudes conscientes, quando constatamos uma falha crônica em seus mecanismos de defesa, enfim, quando sua adaptação emocional à vida é constantemente problemática.
Sempre que as Reações Vivenciais Anormais ou os Distúrbios Adaptativos, ou ainda e também sinônimo, as Reações de Ajustamento não são acontecimentos fortuitos e ocasionais, mas constituem uma maneira perene e constante de relacionar-se com a realidade, estamos diante de uma Personalidade Neurótica.

Os expressivos, alarmantes índices da neurose na Terra funcionam como um veemente apelo ao nosso discernimento, ao exame das causas e suas conseqüências, com maior vigor do que até o momento tem merecido de cada um de nós.
Relegada aos gabinetes especializados e a homens, tecnicamente armados pelo sacerdócio da Medicina, a neurose vem colhendo, nas malhas da sua rede infeliz, surpreendentemente número de vítimas, ora avassalando o mundo civilizado e ameaçando a estabilidade da razão.
Sociólogos conjeturam; psicólogos interrogam; teólogos meditam; psiquiatras, psicanalistas tentam penetrar-lhe as causas, e, não obstante a metodologia de que se servem para a segura diagnose e o eficaz tratamento, a onda neurótica, vencendo incautos e avisados cada vez mais se apresenta referta, avassalante e dominadora.
Isto porque, no problema da neurose em suas raízes profundas, se há que considerar, de imediato, o neurótico em si mesmo, não apenas, no aspecto de réprobo, antes como ser vital no concerto da comunidade em que se movimenta.
Com etiologia complexa e profunda, essa enfermidade apiréptica vem merecendo cuidadosos estudos e debates, a fim de se localizarem os fatores que produzem as perturbações do sistema nervoso, em considerando-se a falta de lesões anatômicas mais graves.
Não obstante as divergências acadêmicas, Freud classificou-as em: verdadeiras, em que há desequilíbrios fisiológicos ao lado de perturbações meramente psicológicas, apesar de transitórias, e psiconeuroses, que são determinadas pelas “fixações da infância” em regressões inconscientes. No primeiro grupo estão situadas as neuroses de ansiedade, a neurastenia, a hipocondria e as de ascendência traumática... Na segunda classe aparecem as de ordem histérica ansiosa, conversiva, os perturbantes estados obsessivos e convulsivos.
Em tal complexidade, surgem as neuroses mistas com mais grave quadro de manifestação.
Influenciando os fenômenos somáticos, expressam-se, não raro, com sintomatologia estranha que desvia a atenção do médico e do paciente, graças à força das síndromes que, para o último, assumem um caráter real, por serem as “dores neuróticas” semelhantes às de às de ordem física. Surgem medos, paralisias, movimentos desconexos, distúrbios múltiplos...
Alguns estudiosos da questão reportam-se, também, taxativos, aos fatores genéticos predisponentes; outros se apoiam nos impositivos da sociedade, com as suas altas cargas de tensão; alguns advertem sobre o tecnicismo desesperador; fala-se do resultado das poluições de vária ordem, todavia, a quase totalidade se esquece da problemática espiritual do alienado pela neurose.
O neurótico é, antes, um espírito calceta, em inadiável processo purificador. Reencarnado para ressarcir ou recambiado à reencarnação por necessidade premente de esquecer delitos e logo repará-los.
A sua psicosfera impõe, nos implementos orgânicos, distonias e desarmonias que se refletirão mais tarde em forma de alienação, como decorrência do seu estado interior, como espírito desajustado.
É óbvio que o comportamento social, as frustrações infantis, as inseguranças da personalidade, as injunções de tempo e de lugar, os fatores familiares e de habitat, as constrições de ordem moral e econômica engendram, evidentemente, as desarticulações neuróticas, porque conseguem limitar as aspirações do espírito fraco, que não se consegue sobrepor a essas conjunturas, para os cometimentos normais.
Ainda, nesse capítulo, se deve considerar que a neurose é um campo amplo e variado, tendo-se em vista a consciência do problema pelo paciente e a sua falta de forças para a superação.
A par desses fatores ocorrem outros na esfera psicológica, quais os denominados “parasitose espiritual”, que se transformando em calamitoso processo obsessivo de longo curso, em face de a vítima do passado converter-se em cobrador do presente, como conseqüência dos delitos perpetrados pelo delinqüente, não são regularizados ante as soberanas Leis da Vida.
Não se exteriorizam as síndromes da neurose no caso em tela, de início, senão quando ocorre a dominação obsessiva do hospedeiro sobre sua vítima.
Indispensável que o olhar vigilante dos religiosos se volte para aqueles que padecem os primeiros sinais de distonia, norteando-os ao cultivo das disciplinas austeras e das virtudes cristãs, com que se armarão para uma libertação eficiente e real, terapêutica de resultado auspicioso para o reajustamento do espírito na vida orgânica e sua conseqüente experiência psíquica, diante do processo de auto-reparação dos impositivos cármicos.
As técnicas da análise, a terapia medicamentosa conseguem, não raro, enquanto favorecem o equilíbrio por um lado, danificar os tecidos mais sutis da organização psicológica, produzindo distonias de outra natureza que se irão manifestar de forma desastrosa no futuro, caso esses processos não recebam a contribuição espiritualista relevante.
Por este motivo, faz-se mister que uma religião capaz de adentrar-se no âmago do ser, como ocorre com o Espiritismo, apresente recursos preventivos para a grande massa humana aturdida nestes dias. Entretanto, esses conceitos, verdadeiro compêndio de Higiene Mental, já foram lecionados por Jesus e estão exarados no “Sermão da Montanha”, ora ratificados pelos textos que Lhe recordam a existência entre nós, de que dão notícia os sobreviventes do túmulo e falam sobre a vida estuante do além.
O neurótico é alguém rebelado contra si mesmo, insatisfeito no inconsciente e contra os outros revoltado.
Instável faz-se agressivo; desajustado, permite-se sucumbir; atônito entrega-se ao desalinho psíquico; excitado, deixa-se desvairar pela violência. Disciplinado, porém, pela moral cristã, adquire recursos para o auto-controle que irá funcionar no seu aparelho nervoso com recursos que bloqueiam as reações do inconsciente, remanescentes das vidas passadas, impedindo que aquelas reações desorganizem as funções conscientes que arrojam no resvaladouro da neurose.
Respeito ao dever, culto ao trabalho, edificação pelo pensamento, exercício de ações nobilitantes produzem no homem salutar metodologia de vida, que o impedem tombar, que o levantam da queda, que o sustentam na caminhada.
Missão relevante está reservada ao Espiritismo: promover superior revolução social na Terra, modificando os conceitos ora vigentes sobre o homem - espírito eterno em viagem evolutiva -, fazendo ver que, no fundo de toda problemática que afeta a criatura, suas raízes estão no pretérito espiritual do próprio ser que volve ao ministério de reeducação, de ascensão, de dignidade pelo esforço pessoal que o credencia à paz, à plenitude.
Conscientizar, responsabilizar, iluminar a mente humana, eis como apresentar-se eficiente método para estancar a avassaladora onda da neurose atual, que, encontrando vazia de reservas morais a criatura humana, cada vez se torna pior, transformando a vida moderna em pandemônio e o homem, consequentemente, em servo do desequilíbrio dominador, desditoso.

Autor: Carneiro Campos
Psicografia de Divaldo Franco. Do livro: Sementes de Vida Eterna

1 comentários:

***Eli Amorim*** disse...

Não poderia deixar de comentar este texto sobre as neuroses e cheguei a uma conclusão, de que as neuroses podem sim ser combatidas com a serenidade, que vem de várias maneiras: a calma, o sossego, a paz e tranquilidade, a paz da mente, o equilíbrio emocional, o estado não perturbado, o sangue frio e o domínio de si. Agora do ponto de vista prático, talvez a melhor definição de serenidade seria " a capacidade de viver em paz com os problemas não resolvidos". Mas aí, já é um tema para um outro texto não é mesmo?!
Mesmo assim, gostei muito deste texto, não chego a ser tão neurótica como está descrito nele. Mas chego sim, a ter os meus surtos...rsrs...

Beijos.

Fique na paz.

Eli.

19 de maio de 2010 às 12:39






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